OS NOMES NA TELA
"Os melhores planos de batalha, como muitos generais têm aprendido ao longo da vida prática, freqüentemente não resistem aos dez primeiros minutos de combate. O que estava previsto nos cálculos não acontece como deveria acontecer; acabam acontecendo, em vez disso, coisas que ninguém previu. O inimigo insiste em reagir como se esperava que reagisse. Os aliados também, sobretudo quando começam a achar que algo não está saindo do jeito que queriam, ou esperavam.as idéias que até então pareciam ser as mais inteligentes do mundo correm o risco sério de se desmanchar; os comandantes presentes ao campo vão perdendo pouco a pouco sua feição serena, própria aos estrategistas, e assumindo o rosto do jogador que manda para o espaço seus planos de ações anteriores e sai com tudo em busca da carta que vai salvar a noite. A campanha presidencial de 2010, que na semana passada consagrou enfim a ministra Dilma Rousseff como candidata oficial do governo e do PT, promete oferecer mais uma boa oportunidade para verificar como vão conviver nos próximos meses o plano-mestre que o mundo oficial elaborou para ganhar as eleições e o que acontecerá, de fato, no mundo das realidades.
O que se pode dizer no momento é que o projeto eleitoral do governo, obra cuja autoria principal é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevê um grande alicerce central –convencer o público de que as eleições presidenciais de outubro próximo estão sendo disputadas pelo próprio Lula e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.É o tal “plebiscito” de que o governo tanto tem falado nos últimos tempos. Mais do que escolher o nome do próximo presidente da República, o eleitorado teria que julgar o desempenho do presidente atual e compará-lo com o do seu antecessor; deveria dizer, em termos de “sim” ou “não”, se aprova esse desempenho ou, então, se ele é melhor do que o de FHC. Caso o eleitor entenda o espírito da coisa, a fatura estaria praticamente liquidada. Lula está tão convencido de que seu governo é uma obra-prima, e de que o seu adversário é o pior de todos os tempos, que o eleitorado não terá alternativa, em 3 de outubro, a não ser votar “sim”, ou nele.A dificuldade principal desse plano é que Lula e Fernando Henrique não são candidatos a cargo nenhum. Seus nomes e retratos não vão aparecer na tela de votação, no dia das eleições; em seu lugar o cidadão terá diante de si os candidatos reais, e só poderá escolher entre eles. E ai?
Ai, para a superior estratégia oficial dar certo, e para todos os efeitos práticos, o eleitor terá de clicar em “Dilma” e não no seu principal adversário, possivelmente o governador José Serra, ou em qualquer dos demais candidatos. Lula e os cérebros políticos que os cercam apostam que será assim. Bom mesmo, para o governo, seria se a Constituição tivesse mudada e e o presidente pudesse estar disputar um terceiro mandato, como se sonhou durante algum tempo; mas acabou não dando certo, e o que sobrou de mais próximo a isso foi o plano ora em execução. Suas chances de sucesso começam a com a utilização, como jamais se viu antes nesse país, da máquina pública em favor da candidatura oficial. Continuam com a vantagem no tempo de propaganda pelo rádio e televisão. Contam, sempre, com uma arma que Lula maneja melhor que ninguém: a técnica de inventar inimigos, como Fernando Henrique apontou recentemente, para travar batalhas imaginarias. Esses inimigos não têm nome: são “eles”, apenas. Podem, portanto, ser acusados de absolutamente tudo. “Eles” vão acabar com o Bolsa Família. “Eles” vão acabar com as “obras do PAC”, que incluem, na interpretação oficial, tudo o que está sendo construído em algum lugar do Brasil por governos estaduais e municipais, empresas estatais e companhias privadas. “Eles” vão entregar as estatais ao capital estrangeiro. “Eles” querem que a oposição ganhe as eleições porque não se conformam que Lula esteja um governo “em favor dos pobres”. Há, enfim, a fé sem limites na própria superioridade. A candidata Dilma, inclusive, parece ter descoberto uma formula para calcular, matematicamente, quando o governo Lula é melhor que o anterior. Segundo a conta da ministra, é “400 vezes” melhor.
O presidente, além disso, acaba de lembrar que ganhou prêmios dos jornais El País e Le Monde e que Fernando Henrique não ganhou nada de nenhum dos dois; o que mais o eleitorado poderia querer? Respostas, mesmo, só depois que a batalha começar''.
obs:os destaques em verde são os argumentos do autor,e o de vermelho é a tese.
(autor: J R Guzzo)